Eu tenho uma mania: a de me apaixonar, por tudo que a vida me oferece. Vivo procurando motivos para que o ENCANTO nunca termine!

quinta-feira, 5 de junho de 2014


Os lisos herdei da mãe.

A cor indefinida foi meu pai.
O amor platônico com certeza foram os contos de fadas
(não sei quem disse que aquilo faz bem).
O fisíco franzino, família paterna, culpada.
A molecagem foi a infância.



As artecênicas, com certeza não foi a Globo
A pretensa comicidade foram , claro, amigos próximos.
A insatisfação estética, foi a tv.
A leitura foram as historias.



Minha inadequação é toda culpa do padrão estético, em alguma outra galaxia posso ser deusa e você também.
O ceticismo específico devo às pessoas, principalmente às que voltam atrás.
Na arte de ouvir , minha mãe elevou-me a mestre.
A arte do “Se vire” foi meu pai.
A raiva do dinheiro, foi a distância que ele colocou entre mim e meus sonhos.



A desconfiança advém das mentiras que já me contaram.
Dores, paixões não cicatrizadas.
A noção de amor perene foram as amigas.
O acúmulo de informações inúteis foi o sistema educacional.



A vontade de ver muitas coisas,
uma coceirinha em conhecer detalhes das pessoas
um amor imenso por crianças, reflexão intensa e involuntária
lágrimas ocultas, a aversão à inversão
a mânia de sonhos matutinos, o gosto pelo colorido
a esquisitice, os longos períodos solteira
o desprezo à gente banal...
Essas coisinhas imperceptíveis aos olhos da multidão
Arabescos da minha personalidade,
vêm dessa coisa estranha que chamam alma...
Num olhar descuidado você não encontrará nada em mim. Mas...



Eu sou um milhão de coisas diferentes,
Nenhuma que você conheça.





quarta-feira, 4 de junho de 2014

“30 coisas que você deve parar de fazer a si mesmo“


Então agora temos uma versão positiva. 30 coisas que você deve começar a fazer para si mesmo. Vamos?
Bora.

1. Comece a passar o tempo com as pessoas certas

Estas são as pessoas que você gosta, que amam e apreciam você, e que o incentivam a melhorar de maneira saudável e estimulante. São aquelas pessoas que fazem você se sentir mais vivo, e não só aceitam quem você é agora, mas também estão de acordo e aceitam quem você quer ser, incondicionalmente.


2. Comece a enfrentar seus problemas de frente

Não são os seus problemas que definem você, mas como você reage e se recupera deles. Os problemas não vão desaparecer se você não agir. Faça o que você puder, quando puder, e reconheça o que você fez. É uma questão de dar passos de bebê na direção certa, centímetro por centímetro. Estes centímetros contam, eles somam metros e quilômetros a longo prazo.


3. Comece a ser honesto com você mesmo sobre tudo

Seja honesto sobre o que está bem, assim como sobre o que precisa ser mudado. Seja honesto sobre o que você quer alcançar e quem você quer se tornar. Seja honesto com todos os aspectos da sua vida, sempre. Porque você é a única pessoa que você sempre pode contar. Procure a verdade na sua alma, para que você realmente saiba quem você é. Quando você fizer isso, você terá uma melhor compreensão de onde você está agora e como você chegou aqui, e você estará melhor equipado para identificar onde você quer ir e como chegar lá. Leia O Caminho Menos Percorrido.


4. Comece a fazer da sua própria felicidade uma prioridade

Suas necessidades importam. Se você não se valoriza, não se cuida e não se defende, você está se sabotando. Lembre-se, é possível cuidar das suas próprias necessidades e ao mesmo tempo cuidar das pessoas ao seu redor. E quando as suas necessidades forem atendidas, você provavelmente vai ser muito mais capaz de ajudar aqueles que precisam de você.


5. Comece a ser você mesmo, genuinamente e orgulhosamente

Tentar ser qualquer outra pessoa é um desperdício da pessoa que você é. Seja você mesmo. Abrace essa pessoa dentro de você, que tem ideias, força e beleza como ninguém. Seja a pessoa que você sabe que você é – a melhor versão de você – do seu jeito. Acima de tudo, seja fiel a VOCÊ, e se seu coração não quiser fazer algo, então não faça.


6. Comece a prestar atenção e viver no presente

O agora é um milagre. Agora é o único momento garantido para você. Agora é a vida. Então pare de pensar em como as coisas vão ser ótimas no futuro. Pare de ficar pensando sobre o que você fez ou deixou de fazer no passado. Aprenda a ficar no “aqui e agora” e experimentar a vida enquanto ela está acontecendo. Aprecie o mundo pela beleza que ele possui nesse momento.


7. Comece a valorizar as lições que seus erros ensinam

Tudo bem errar. Os erros são os degraus do progresso. Se você não está falhando de vez em quando, você não está se esforçando o suficiente e você não está aprendendo. Assuma riscos, tropece, caia, e, em seguida, levante-se e tente novamente. Aprecie que você está se esforçando, aprendendo, crescendo e melhorando. Conquistas significativas são quase invariavelmente realizadas no final de um longo caminho de fracassos. Um dos “erros” que você teme pode ser apenas o elo para o seu maior feito na vida.


8. Comece a ser mais gentil com você mesmo

Se você tivesse um amigo que falasse com você da mesma forma como, às vezes, você fala com você mesmo, quanto tempo você permitiria que essa pessoa fosse sua amiga? A maneira como você se trata estabelece o padrão para os outros. Você deve amar quem você é ou ninguém mais irá.


9. Comece a desfrutar as coisas que você já tem

O problema com muitos de nós é que pensamos que vamos ser feliz quando alcançarmos certo nível na vida – um nível que outros conseguiram – seu chefe com seu escritório de canto, o amigo de um amigo que é dono de uma mansão na praia, etc. Infelizmente, pode levar algum tempo antes que você chegue lá, e quando você chegar lá, você provavelmente vai ter um novo destino em mente. Você vai acabar gastando toda a sua vida trabalhando em direção a algo novo, sem nunca parar para apreciar as coisas que você tem agora. Então, fique em silêncio todas as manhãs quando você acordar, e aprecie onde você está e o que você já tem.


10. Comece a criar sua própria felicidade

Se você está à espera de alguém para lhe fazer feliz, você está perdendo tempo. Sorria porque você pode. Escolha a felicidade. Seja a mudança que você quer ver no mundo. Seja feliz com quem você está agora, e deixe a sua positividade inspirar sua jornada para o amanhã. Felicidade é frequentemente encontrada quando e onde você decide procurá-la. Se você procurar a felicidade dentro das oportunidades que você tem, você acabará por encontrá-la. Mas se você constantemente procurar outra coisa, infelizmente, você vai encontrar isso também. Leia Tropeçar na Felicidade.


11. Comece a dar uma chance para as suas ideias e sonhos
Na vida, raramente é sobre ter uma oportunidade, mas sim sobre se arriscar. Você nunca vai estar 100% certo que vai funcionar, mas você sempre pode estar 100% certo que não fazer nada não vai funcionar. Na maioria das vezes você só precisa ir em frente! E não importa o resultado, sempre acaba do jeito que deveria ser. Ou você tem sucesso ou você aprende alguma coisa. De qualquer jeito, você ganha.


12. Comece a acreditar que você está pronto para a próxima etapa

Você está pronto! Pense nisso. Você tem tudo que você precisa agora para dar o próximo passo adiante, pode ser pequeno, mas deve ser realista. Então abrace as oportunidades que surgem em seu caminho, e aceite os desafios – eles são presentes que irão ajudá-lo a crescer.


13. Comece novos relacionamentos pelas razões certas

Entre em novas relações com pessoas confiáveis​​, honestas, que refletem a pessoa que você é e a pessoa que você quer ser. Escolha amigos que você tem orgulho de conhecer, pessoas que você admira e que demonstram amor e respeito por você – pessoas que retribuem sua bondade e seu compromisso. E prestam atenção ao que as pessoas fazem, porque as ações de uma pessoa são muito mais importantes do que suas palavras ou como os outros a descrevem.


14. Comece a dar uma chance às novas pessoas que você encontra
Parece desagradável, mas você não pode manter cada amigo que você já fez. As pessoas e suas prioridades mudam. Assim como alguns relacionamentos vão desaparecer, outros vão crescer. Aprecie a possibilidade de novas relações enquanto você naturalmente larga mão das antigas que não funcionam mais. Confie em seu julgamento. Abrace novas relações, sabendo que você está entrando em território desconhecido. Esteja pronto para aprender, esteja pronto para o desafio e esteja pronto para encontrar alguém que pode mudar sua vida para sempre.


15. Comece a competir contra uma versão anterior de você mesmo
Seja inspirado pelos outros, aprecie os outros, aprenda com os outros, mas saiba que competir contra eles é um desperdício de tempo. Você está em competição com uma pessoa e apenas uma – você mesmo. Você está competindo para ser o melhor que você pode ser. Vise quebrar seus próprios recordes pessoais.


16. Comece a torcer pela vitória das outras pessoas
Comece a perceber o que você gosta nos outros e diga a eles. Apreciar o quão incrível as pessoas ao seu redor são conduz a lugares, bons, produtivos, gratificantes e pacíficos. Então, fique feliz por aqueles que estão progredindo. Torça pelas suas vitórias. Seja grato abertamente pelas bênçãos que eles receberam. O que vai, volta, e mais cedo ou mais tarde, as pessoas para quem você está torcendo começarão a torcer por você.


17. Comece a olhar para o lado positivo nas situações difíceis
Quando as coisas estão difíceis, e você se sente para baixo, faça algumas respirações profundas e procure o lado positivo – os pequenos sinais de esperança. Lembre-se que você pode e vai ficar mais forte quando esses tempos difíceis passarem. E permaneça consciente de suas bênçãos e vitórias – todas as coisas em sua vida que estão bem. Concentre-se no que você tem, não no que você não tem.


18. Comece a perdoar a si mesmo e aos outros
Todos nós fomos feridos pelas nossas próprias decisões e pelos outros. E enquanto a dor dessas experiências é normal, às vezes perdura por muito tempo. Nós revivemos a dor repetidamente e temos dificuldade em deixá-la ir. O perdão é o remédio. Isso não significa que você está apagando ou esquecendo o que aconteceu no passado. Isso significa que você está deixando de lado o ressentimento e a dor, e está escolhendo aprender com o incidente e seguir em frente com sua vida.


19. Comece a ajudar aqueles que estão a sua volta
Se preocupe com as pessoas. Oriente-as se você souber um caminho melhor. Quanto mais você ajudar os outros, mais eles vão querer ajudá-lo. Amor e bondade gera amor e bondade. E assim por diante.


20. Comece a ouvir a sua voz interior
Se isso ajuda, discuta suas ideias com as pessoas mais próximas de você, mas dê a você mesmo espaço suficiente para seguir a sua própria intuição. Seja fiel a si mesmo. Diga o que você precisa dizer. Faça o que o seu coração diz que está certo.


21. Comece a ficar atento ao seu nível de estresse e faça pausas curtas
Vá mais devagar. Respire. Dê a você mesmo permissão para fazer uma pausa, reagrupar e avançar com clareza e propósito. Quando você estiver muito ocupado, um breve recesso pode rejuvenescer a sua mente e aumentar a sua produtividade. Estas pausas curtas vão ajudá-lo a recuperar sua sanidade e refletir sobre suas ações recentes, assim você pode ter certeza que elas estão alinhadas com seus objetivos.


22. Comece a perceber a beleza dos pequenos momentos
Em vez de esperar que grandes coisas aconteçam – casamento, filhos, grande promoção, ganhar na loteria – encontre a felicidade nas pequenas coisas que acontecem todos os dias. Pequenas coisas, como tomar tranquilamente uma xícara de café no início da manhã, ou o delicioso cheiro e sabor de uma refeição caseira, ou o prazer de compartilhar algo que você gosta com outra pessoa ou ficar de mãos dadas com o seu parceiro. Perceber esses pequenos prazeres diariamente faz uma grande diferença na qualidade de sua vida.


23. Comece a aceitar as coisas quando elas não são perfeitas
Lembre-se, “perfeito” é o inimigo do “bom”. Um dos maiores desafios para as pessoas que querem melhorar a si mesmas e melhorar o mundo é aprender a aceitar as coisas como elas são. Às vezes é melhor aceitar e apreciar o mundo como ele é, e as pessoas como elas são, em vez de tentar fazer com que tudo e todos estejam em conformidade com um ideal impossível. Não, você não deve aceitar uma vida medíocre, mas deve aprender a amar e valorizar as coisas até mesmo quando elas não são perfeitas.
24. Comece a trabalhar na direção dos seus objetivos todos os dias


Lembre-se, a viagem de mil quilômetros começa com um passo. Seja qual for o seu sonho, todo dia dê um passo pequeno, mas coerente, para que seu sonho aconteça. Vá lá e faça alguma coisa! Quanto mais você trabalhar, mais sorte você terá. Enquanto muitos de nós dizemos, em algum momento durante o curso de nossas vidas, que queremos seguir a nossa vocação, poucos são aqueles astutos que realmente trabalham para que isso aconteça. Por “trabalhar por isso”, eu quero dizer se dedicar consistentemente ao resultado final. Leia Os 7 Hábitos das Pessoas Altamente Eficazes.


25. Comece a dizer mais como você se sente
Se você está sofrendo, dê a você mesmo o espaço e o tempo necessário para se sentir a dor, mas esteja aberto sobre isso. Converse com as pessoas mais próximas a você. Diga-lhes a verdade sobre como se sente. Deixe-os ouvir. O simples ato de desabafar é o seu primeiro passo para se sentir bem novamente.


26. Comece a tomar plena responsabilidade pela sua vida
Seja responsável pelas suas escolhas e pelos seus erros, e esteja disposto a tomar as medidas necessárias para melhorar de acordo com eles. Ou você assume responsabilidade pela sua vida ou alguém o fará. E quando alguém o fizer, você vai se tornar um escravo das suas ideias e sonhos em vez de um pioneiro dos seus próprios sonhos. Você é o único que pode controlar diretamente o resultado da sua vida. E não, não vai ser sempre fácil. Cada pessoa tem uma pilha de obstáculos na frente delas. Mas você tem que assumir a responsabilidade pela sua situação e superar esses obstáculos. Optar pelo contrário é escolher uma vida de mera existência.


27. Comece a nutrir seus relacionamentos mais importantes
Leve para a sua vida, e para as vidas daqueles que você ama, verdadeira e honesta alegria com o ato simples de lhes dizer regularmente o quanto eles significam para você. Você não pode ser tudo para todos, mas você pode ser tudo para algumas pessoas. Decida quem são essas pessoas em sua vida e trate-as como se fossem da realeza. Lembre-se, você não precisa de certo número de amigos, apenas um número de amigos que você pode contar.


28. Comece a se concentrar nas coisas que você pode controlar
Você não pode mudar tudo, mas você sempre pode mudar alguma coisa. Desperdiçar seu tempo, talento e energia emocional com coisas que estão além do seu controle é uma receita para a frustração, miséria e estagnação. Invista sua energia nas coisas que você pode controlar e aja sobre elas agora.


29. Comece a se concentrar na possibilidade dos resultados positivos
A mente tem que acreditar que pode fazer alguma coisa antes que seja realmente capaz de fazê-la. O caminho para superar os pensamentos negativos e as emoções destrutivas é desenvolver emoções positivas que são mais fortes e mais poderosas. Ouça a sua voz interior e substitua pensamentos negativos por positivos. Independentemente de como a situação parece, foque sobre o que você quer que aconteça e, em seguida, dê o próximo passo positivo. Não, você não pode controlar tudo o que acontece com você, mas você pode controlar como você reage às coisas. A vida de todos tem aspectos positivos e negativos. A longo prazo, você ser ou não ser feliz e bem-sucedido depende muito de quais são os aspectos mais focados na sua vida. LeiaThe How of Happiness.


30. Comece a perceber o quão rico você é agora
Henry David Thoreau disse certa vez: “Riqueza é a capacidade de experimentar a vida plenamente.” Mesmo quando os tempos estão difíceis, é sempre importante manter as coisas em perspectiva. Você não foi dormir com fome na noite passada. Você não dormiu na rua. Você pôde escolher que roupa vestir esta manhã. Você não se cansou hoje. Você não gastou um minuto com medo. Você tem acesso à água potável. Você tem acesso a cuidados médicos. Você tem acesso à Internet. Você pode ler. Alguns poderiam dizer que você é incrivelmente rico, então se lembre de ser grato por todas as coisas que você tem.

 Marc e Angel.

domingo, 1 de junho de 2014

Quando eu morrer toquem o Álbum Branco dos Beatles


Dioleno passou a vida inteirinha enchendo o saco de todo mundo com aquela estória de — por favor, gente — tocarmos só canções dos Beatles durante o seu funeral.
“Não se preocupe, vamos tocar “Satisfaction” até você virar dentro do caixão”, algum espírito de corpo dizia, só pra contrariar, só pra baixar o nível da discussão, uma vez que até mesmo fãs de música sertanejo-universitária com Ensino Fundamental incompleto sabiam que aquele sempre foi o principal sucesso dos “arquirrivais Stones”.
“Podem tocar o repertório inteiro se der tempo, mas, sem repetições, sem bis, e com muita organização. Respeitem o legado de Lennon, McCartney e George Harisson, cambada!”, ele advertia, transbordando devoção pela banda britânica.
Ninguém suportava mais aquele papo. Até que Dioleno morreu mesmo (tudo morre um dia, exceto a corrupção, a mentira e a vontade de ir pro Céu), aos sessenta e quatro anos (“When he was sixty-four”, alguém parodiou), com overdose de açúcar. O sujeito, além de beatlemaníaco, era diabético, e mergulhou num coma após consumir altas doses de mastruz com leite e mel, hábito alimentar que sustentava desde a infância, iniciado pelos pais que eram hippies, lascados e igualmente idólatras dos Garotos de Liverpool. Tomou gosto pela iguaria quando ouviu na vitrola, pela primeira vez, a canção “A taste of honey”, que nem da autoria de Lennon e McCartney era, mas aparecia no primeiro LP dos Beatles, de 1963.
Adepta ao naturismo, ao Flower Power, às pílulas anticoncepcionais, ao uso de maconha e de plantas medicinais, a mãe de Dioleno insistia em curar a bronquite do guri com aquela receita caseira, que só não curava câncer, unha-encravada e diabetes. Aliás, por causa do uso contumaz e prolongado, Dioleno adoeceu de tanto queimar insulina à toa.
Passado algum tempo, Dioleno mudou com os pais para a capital e os perdeu para o forró eletrônico e a axé music, então decidiu viver sozinho nesse mundo velho e sem porteira, inspirado na letra de “She’s leaving home”, do disco “Sgt. Pepper”. Sempre que um solitário morre, é preciso mexer, procurar, revirar as gavetas, fuçar nos pertences em busca de pistas úteis que levem ao melhor entendimento do perfil burocrático do falecido, afinal, por força da lei e da deterioração da matéria, é preciso enterrar o indivíduo o mais rápido possível.

O desconhecimento de um ser pelo outro é ainda mais aviltante nos dias de hoje, em que as pessoas não estão atentas ao que se diz, ao que se sente, fazendo com que muitas informações diárias relevantes se percam pelo caminho, na roda-viva das grandes cidades, na correria urbana desenfreada na qual o trabalho e a busca pela redenção financeira estão acima das relações humanas mais primárias como, por exemplo, tomar um pingado num copo americano sujo de batom, enquanto se observa a vida passar pelas calçadas.
Ultimamente, Dioleno morava sozinho num quarto de hotel vulgar no centro da cidade. Ao revirarmos o seu pequeno espólio, nos deparamos com a coleção completa dos Fab Four, além de um sem número de souvernirs da banda mais famosa da história do pop-rock.
Chamou nossa atenção um exemplar bem conservado do “Álbum Branco”, lançado em 1968, em cuja capa nem-tão-branca-assim Dioleno anotara o roteiro, o repertório póstumo de canções, com as suas respectivas resenhas justificadoras, a serem reproduzidas durante o seu funeral.
Quem se deparasse com aquela deselegante caligrafia de Dioleno na capa do LP poderia até jurar fosse ele um catedrático, um doutor, uma sumidade da medicina cubana no Brasil, ou uma autoridade da medicina brasileira em Havana. Tanto assim que alguém se lembrou de requisitar um conhecido que trabalhava como balconista numa farmácia, um verdadeiro ás na prescrição ilegal de medicamentos genéricos no balcão, um craque na decifração de letras garranchadas dos doutores.
Enquanto todos chorávamos em círculo, o jovem balconista estrábico, sabido como ele só, ditava para que eu anotasse o roteiro das canções dos Beatles a serem tocadas durante o velório, que era o desejo expresso de Dioleno Macarter Rérissom, nome de registro no decadente cartório de Bungalow Bill, Ceará. Abre aspas:
Antes de mais nada, se precisarem (e vão precisar) do meu atestado de óbito, chamem (e ouçam)Doctor Robert. Triste detalhe: ele não atende pelo SUS.
Mandei fazer um adesivo enorme com o silk Magical Mistery Tour. Está guardado dentro da tábua de passar roupas, embaixo da minha cama. Retirem com cuidado e preguem, por favor, na tampa do ataúde. Deus lhes pague, já que eu não o farei.
Se alguma criança presente ao recinto perguntar se eu morri, digam que eu estou apenas dormindo, e coloquem “I’m only sleeping” para ela ouvir. Comprem também um algodão doce, que logo ela para de chorar.
Toquem, em alto volume, “I want to hold your hand”, caso alguém se atreva a cantar que amigo é coisa pra se guardar do lado esquerdo do peito, mesmo que o tempo e a distância digam não.
Se, supostamente, alguma mulher declarar em lágrimas que tinha o meu amor, toquem primeiro “All my loving” e “She loves you”, para alegrar o seu coração (o coração dela, pois o meu já estará parado há tempos). Logo em seguida, para não criar falsas expectativas, arrematem o tributo com “All things must pass” e “Cry baby cry”. E fim de papo. A fila anda, minha filha.
Não somente toquem “Old Brown shoe”, mas me enterrem trajado com um par de sapatos mocassim de cor marrom. Estão guardados dentro do armário, na primeira gaveta, contando de baixo para cima. Por favor, não cometam o disparate de engraxá-los.
Antes que alguém comece a me enaltecer num discurso, ponham pra rodar  “In my life”. A letra, por si só, já diz tudo o que eu tinha pra dizer a respeito de mim, do que eu fiz e do que deixei de fazer na vida.
Se um padre, pastor ou policial sugerir uma derradeira oração antes de lacrarem a minha urna, toquem “Hey Jude” e preparem os lenços. E que todos os presentes, em coro, caprichem no refrão entoando o famoso “na na na na na na na”. Cantem esta parte repetidas vezes até as gargantas ficarem tão secas quanto o agreste.
Ao preencherem os cheques (Deixei dois deles assinados em branco, devidamente cruzados, os quais se encontram na escrivaninha, na gaveta do meio, dentro da biografia não autorizada de John Lennon. Autorizo vocês, meus amigos do peito, a preencherem os valores) para pagarem pelos sempre abusivos serviços póstumos da funerária, toquem, como forma de protesto, a canção “Taxman”. Para debochar dos papa-defuntos sacanas, terminem com “Money (That’s what I want)” e “You can’t do that”. Vai ser demais.
Enquanto o sexteto de vitaminados e voluntariosos amigos estiver carregando o meu esquife barato, toquem “With a little help from my friends”, emendando com “Come together”, “Carry that weight” e “The long and winding road” (afinal, o caminho até o buraco será mesmo bem longo). Se algum dos companheiros alegar cansaço, toquem “We can work it out”. Quem sabe assim o cabra se anima.
Se a tarde estiver chuvosa, triste, e pintar uma melancolia, toquem “Rain”. Se, ao contrário, um sol delicioso danar a lamber o gramado verdinho do cemitério, toquem “I’ll follow the the sun”. Será lindo, principalmente se um Blackbird cantar no flamboyant.
Para escrever na lápide, suplico aos amigos que, através de votação aberta e democrática — ao contrário do que hoje ocorre no Congresso Nacional — vocês escolham, ao som de “Let it be”, uma dentre as três opções a seguir: “Nowhere man” / “Free as a Bird”/ “P.S. I love you”. E dá-lhe pá de cal em cima.
Para fechar o funeral com um grammy de ouro, já que cemitério não possui terraço, que uma banda cover dos Beatles toque “Don’t let me down” sobre a minha sepultura.
The end.

Mãos ao alto! Isto é um abraço!





      É um desejo, quase um cansaço. Mãos ao alto! Isto é um amor escondido, um carinho perdido, uma promessa de estrelas. Prepare-se logo para novos assaltos, iluminados como jamais viu. Invasões nas quais trocam-se armas por flores, gritos por sussurros, defesas por clamores.
     Novas aventuras se aproximam. Nesse mundo de pedras e podres, alguém prega novos momentos e encontros brandos, assinalados um a um, no livro branco da paz. A imundície foi posta a nocaute. O perjúrio, enjaulado. A roubalheira diária trancafiada nos cofres de uma ética que se supõe quase possível.
A algazarra dos sujeitos sujos em suas gravatas de serpentes de seda envenenada, foi atirada aos leões do coliseu contemporâneo, onde digladiam-se causas nobres e justas.
   
     Mãos ao alto. Os ratos, morcegos e baratas recobertos na pele cinzenta de monstruosos políticos receberão os primeiros raios de sol de uma alvorada inaudita. Não há como escapar ao vaticínio. Muitos fugirão para as sombras. Outros cavarão abrigos em terrenos desérticos. Outros ainda se aninharão na intimidade dos cactos — pois estes espinhosos contatos são os únicos destinados a quem urde baixezas atitudinais em sua parca e estiolada existência. Mãos ao alto, Brasil! Já tão murcho pelo débil anúncio de pálidas desesperanças. Há futuros, não definhe! As crianças e os jovens prosseguem rindo à toa. Garantem bonanças, brincando de roda por detrás de suas euforias rosadas. Há mudanças neste ar, até então poluído de amarguras e desalentos. Reparem só.
   Há pássaros fortes e altaneiros, águias reais, condores suntuosos adejando surpresas nesta terra de horrores, já desbotada, em seu verde amarelo. Cores assustadas, tão esgarçadas quanto a primeira bandeira cerzida nos séculos dos velhos imperadores por uma sinhazinha modesta.

      Mãos ao alto! Joguem ao chão defesas, ressentimentos, maledicências. Rejeitem desconfianças de toda a ordem. O amor existe e insiste em lhe entregar uma flor. Não cerre os olhos. Não vire a cabeça no exato instante em que caminhos férteis se delineiam devagar pelas mãos da natureza em sua mais tenra infância.
Abrace a coragem de ostentar brilho nos olhos. O sorriso no rosto nu de certezas, nas mãos vazias de crenças, que teimam, entretanto, se manter estendidas.
     Os lábios estão molhados à cata de paixões. O ar se cobre de um desfile de gerânios, jasmins, girassóis, reivindicando no horizonte perfumes esquecidos nos secos marcadores de livros. As flores do pântano se acanham. Àquelas do sereno, se encolhem.

    Mãos ao alto! Porque a primavera ergue seu reinado de sementes, brotos de vida verde, devassando fendas de desusados terrenos. Colheitas, aos poucos, se anunciam.
Preste atenção. Os corações agora saltaram para as mãos e correm ávidos pelos bairros, acordam a vizinhança, assaltam casas tranquilas, tocam acordeão em bando, despertam princesas sonolentas e príncipes apáticos.
    Este é o novo amor que se configura escaldante. Vermelho-fumegante como tomates frescos, mesclados a uma sopa que revigora e alegra quem a bebe.

   Mãos ao alto! Estão de volta os doces e bárbaros sonhos, as amazonas selvagens, os deuses da escuridão, dispostos a guerrear contra a inocência perdida e as leis defloradas por seres do mal. O código da vida é insone. Ouvem-se gritos pagãos de quem não teme a morte nem as noites sem lua.
    Mãos ao alto! Isto é um abraço. Então venha. Me abrace, me aperte, rasgue a minha pele e a sua. Me morda e se entranhe neste amor ladrão. A emoção bandida que nos inunda de quaisquer demandas e vícios do corpo. É um afeto prisioneiro envolto em carícias e cárceres.

    Creia. Este amor, dentro ou fora das grades, é o maior amor do mundo. Por isso não perca tempo. Livre-se dos medos avulsos e prenda-se aos seus mais belos afetos. Mas faça isso logo. Antes que chegue algum ladrão sorrateiro.