Eu tenho uma mania: a de me apaixonar, por tudo que a vida me oferece. Vivo procurando motivos para que o ENCANTO nunca termine!

quarta-feira, 15 de setembro de 2010

Amores!


Ele tinha qualquer coisa que me atraia muito, uma doçura no olhar, ou uma força, não sabia bem. Era meu colega de trabalho. Colega exatamente não, trabalhávamos no mesmo jornal, mas em departamentos diferentes. Pouco nos víamos. Houve uns esboços de conversa em que Le muito discretamente arrastou a asa pra mim. E uns olhares. Nada mais. Curiosa, perguntei por ele a amigos em comuns... E depois de tê-lo coberto de rótulos, depois de ter visualizado qual seria nosso possível tipo de romance, joguei o cara no esquecimento e evitei qualquer papo... Hoje é o poeta mais importante do Brasil. Pelo menos pra mim, que casei com ele e o amo tanto. Aí está um homem que eu não só não considerei, mas descartei propositalmente, era justamente o mais perfeito, que me faria muito feliz. Quantos homens assim já passaram na sua vida sem que você tenha se dado conta? Você não pode saber, é claro, porque, não tendo sequer se aproximado, não deu chance a ele e a você de descobrir seu potencial. Mas talvez mais de um já tenha cruzado seu caminho e sumido. O processo de “descarte” não é só seu, como não foi só meu. A maioria das pessoas age assim. E age assim inconscientemente, trabalhada por preconceitos... Um dos problemas que levam á isso é a idealização... O abacaxi tem folhas espinhentas e cortantes, sua própria casca é áspera e grossa. Nada, por fora, leva a suspeitar a branca doçura da carne, do sumo farto...
No fundo, ás vezes, deixamos de nos interessar por alguém, não por ele, mas pela gente _ por você.Você não quer experimentar, com medo de chamuscar as asas. Quer se preservar para aquele perfeito, que vier já com um anúncio luminoso de grande amor brilhando na testa, feito e preparado para realizar seus sonhos e felicidade. Você não cogita ter um pequeno romance casual... Até descobrir aquele mais importante e definitivo com quem quer casar. Você quer se preservar, o amor bem vigiado no peito, guardado daquela experiência arrasadora criada em sua mente fantasiosa. E se arrisca a deixá-lo ali para sempre, sem uso, pobre amor tão quente, alimentado de fantasmas. Um amor guardado é um amor trancado, um amor preso que não permite olhar para os lados livremente. Solte esse amor, ninguém vai roubá-lo. Ele vai, e, se for preciso, ele volta. Volta às vezes meio amassado, machucado de guerra, mas enriquecido de conhecimento e experiências. Embora doa, o amor se aprende nas feridas.
Brinque de amar mais levemente. Ame de repente o primo, ame o baixinho ou o altão, ame o vizinho ou aquele turista que só vai ficar aqui mais uma semana. Se não forem grandes amores serão amores pequenos, treinos de amor, os quais você se prepara para aquele amor maior com o que sonha. E há sempre atrás e um homem descartável, a possibilidade de uma surpresa. Como o abacaxi, as pessoas também têm uma casca e uma polpa. Quem sabe uma surpresa dessas não está reservada para você? Meu conselho, portanto, se conselho posso dar, è o de andar pela vida assuntando o redor. E, sobretudo, de não descartar nada sem antes olhar com amor, de se aventurar além da casca.

Marina Colasanti.

Nenhum comentário:

Postar um comentário